Amar e Esquecer
Meu luto é pelo esquecimento, não pelas lembranças.
Às vezes a gente demora a perceber que o punhal ainda está cravado no peito. Demora a perceber que a ferida ainda sangra.
Eu amei um dia. De maneira insana, me entreguei com toda a minha loucura e lucidez. Amar pode ser profundamente traumático e, ainda agora, me sinto encolhida perante a vida.
Recolhi os pedaços pelo caminho e fiz o meu melhor para seguir adiante. Mas os anos passaram desbotados e, quando dei por mim, já era 2021.
E eu ainda estava ali, parada no cruzamento da Victoria Street, fumando um cigarro antes de partir para sempre.
Essa é a parte mais difícil. Por que não partir apenas por alguns dias, meses ou anos? Por uma temporada?
Não, eu me incubi a tarefa de nunca mais voltar e esta decisão tornou o exercício de partir ainda mais penoso.
Me fez adiar por sucessivas vezes o adeus. Até que o tempo me pegou pelas mãos e disse: Chegou a hora de ir.
Gentilmente me conduziu pelas vielas do esquecimento. Becos escuros em que memórias eternas se dissipam e viram pó. Instantes infinitos se fragmentam e são embaçados pela poeira das horas.
O tempo é implacável.
Hoje eu choro. Minhas lágrimas enlutadas caem com pesar. Meu luto é pelo esquecimento, não pelas lembranças.
E eu insisto em me questionar: como podemos amar alguém assim e um dia simplesmente esquecer?
É algo que definitivamente não entra na minha cabeça. Amar alguém e, ainda assim, um dia simplesmente esquecer.
Sou Flay Alves. Jornalista maranhense, autora de Donas de Si e colunista da Revista AzMina. Mentora de mulheres que desejam destravar na escrita e na carreira literária. Escrevo sobre a potência da vida e o encanto de ser gente. Quer percorrer essa jornada comigo? Me acompanhe no insta. :))